12.31.2007
OPINIÃO: Novos ares para a Europa?
A verdade é que viver e trabalhar numa cidade é e continuará, se não forem tomadas medidas, a ser sinónimo de falta de qualidade de vida para o comum dos cidadãos. Os dados são inquietantes: segundo dados comunitários, na Europa dos nossos dias 360 mil pessoas morrem devido à poluição atmosférica. Se forem levados em conta factores como o tráfego automóvel excessivo, a escassez de espaços verdes ou o (ainda) insuficiente tratamento dos resíduos sólidos urbanos, então estes números são tudo menos de estranhar.
É de sublinhar o desafio lançado então por Hegvyi à Comissão Europeia (CE), ao propor que esta estabelecesse medidas como planos de gestão urbana sustentável, quotas de espaços verdes per capita nas cidades, promoção de transportes pouco poluentes e não-motorizados ou a introdução de taxas de congestionamento e de zonas de baixas emissões nas cidades com elevada poluição atmosférica. Para tal - convenha-se -, é também indispensável repensar o espaço urbano.
No que concerne à dimensão político-institucional do problema, esta discussão teve recentemente um desenvolvimento encorajador, com a CE a aprovar um conjunto de objectivos para a melhoria da qualidade do ar e contra a poluição atmosférica, com o intuito de aprovar uma directiva única (mais informação aqui). Algo que, ainda longe de concretizar a ambição (utópica?) de Gyula Hegyi, é importante, uma vez que muitos Estados-membros (Portugal incluído) não cumprem sequer os valores-limite previstos na legislação em vigor.
No entanto, apenas isto não chega. A inquietante constatação de que as metas lançadas em Quioto e reforçadas em Bali são ainda uma miragem leva a concluir que chegou a altura de poupar nas palavras de circunstância, tornando prioritário o investimento em medidas imediatas que conduzam, já numa perspectiva alargada às mais variadas dimensões, a um espaço europeu efectivamente ecológico, onde Ambiente, Tecnologia, Ciência e – porque não? – Economia sejam não apenas compatíveis mas verdadeiramente complementares.
Doa a quem doer, e com alguma atenção a quem sempre desprezou a ecologia e agora ostenta um discurso "verde", devidamente enquadrado em políticas de responsabilidade social e ambiental, enquanto sinónimo de votos e receitas.
Nuno Loureiro
Fotografias: D.R.
12.27.2007
People Like Us & Ergo Phizmiz: "Codpaste" podcast series
Supported by Arts Council England and WFMU, this project presents audio sources, sketches, mixes and collages combining track elements with added instrumentation, electronics, vocals, etc., as well as fragments, layers, and multitracks of the collage compositions. Elements that are «tied together by snippets of light-hearted, tangential conversations and introductions and occasional mental overload and verbal meltdown».
Episode 1 - 3rd December 2007 - Cartoon Music
Episode 2 - 10th December 2007 - The Chase
Episode 3 - 17th December 2007 - Hooked On Classics
Episode 4 - 24th December 2007 - ThEdit
GPInformation
Photo: R.R.
12.23.2007
Entrevista: Ikue Mori
Começou a carreira artística como baterista. Ainda toca?
Não toco bateria há mais de 15 anos e não tenho tido interesse em voltar a tocar, mas nunca se sabe o que poderá acontecer no futuro.
Para além dos detalhes técnicos, quais são as diferenças principais que pensa que existe entre tocar bateria e usar "máquinas"?
Em qualquer dos casos somos nós que as controlamos e, apesar das diferenças físicas óbvias, não existe qualquer tipo de forma de tocar com outros músicos/artistas.
Falando de "máquinas". Qual a sua caixa de ritmos favorita?
Desde há bastante tempo que uso uma Alesis drum machine. Usei também HR A, HR B e SR em simultâneo.
Tenko Eno, Zeena Parkins, John Zorn e Fred Frith são alguns dos nomes com quem já trabalhou ao longo desta longa carreira. Para si, quais são os factores mais importantes para que consiga trabalhar com outros artistas? Estamos aqui a falar de empatia artística?
Sempre que possível gosto de trabalhar com os amigos. Para mim, é muito mais importante a empatia e a comunicação artistica do que as questões técnicas.
Neste momento, está a trabalhar com alguém? Pode avançar alguns detalhes sobre os seus projectos recentes e futuros?
Tenho andado a desenvolver imagens para serem utilizadas em vídeo aliadas a sons. Editei o primeiro DVD pela Tzadik. Realizei uma animação para umas pinturas antigas do Bali que conta a história de uma viagem do inferno para o paraíso.
Na música, terminei o segundo álbum do projecto Phantom Orchard, com a Zeena Parkins, e o meu outro projecto Mephista, com Sylvie Courboisier (piano) e Susie Ibarra (drums), regressou da terceira tourneé europeia. Ainda tenho os meus dois concertos para Março de 2008 na Japan Society.
É bom que existam estas distâncias para termos uma visão diferente das coisas.
Neste concerto tocou três composições para filmes mudos. Escolheu-os ou foi convidada para fazer a banda sonora para eles?
Originalmente este espectáculo foi comissariado pela Tate Modern (London). Lisboa ouviu falar deste projecto e convidou-me.
Mudando de assunto, alguma vez pensou em editar numa netlabel? Que opinião tem sobre as netlabels e qual pensa que será o seu futuro?
Neste momento não tenho nenhum interesse em editar em netlabels...
O que pensa de Portugal?
Já estive em Portugal bastante vezes e gosto muito do país.
Fernando Ferreira e Nuno Loureiro
Fotografias: D.R.
Entrevista também disponível no Niji Zine/ClubOtaku
12.18.2007
Ditterich von Euler-Donnersperg: "O Du Frohliche/O Tannenbaum Dub"
And of course, the days are short, the nights are long and we must celebrate the birth of our saviour again.
Christmas was no friend of mine. But there is one little bit of light in the dark days of Christmas: Meeuw Muzak releases another fine 7". By now I can spend at least half boxing day listening to the crazy Christmas tunes of Meeuw. The latest addition is by Ditterich von Euler-Donnersperg who has released some even more crazy music on his own Walter Ulbricht label and Die Stadt, with partly reading of texts and partly electronic music.
Here he offers two soft electronic music pieces, which are like snowflakes (of course it never snows in Dutch Christmas times). Almost kitchy and new age like on a super cheesy keyboard with all the wrong (and thus right) preset sounds, Ditterich is perhaps that great family man that such tunes under his Tannenbaum for a wealth of happy children, who start unwrapping their presents as daddy finishes his tunes.
Great stuff, once again. I can't wait for Christmas with my Meeuw Muzak collection (isn't about time for a nice CD compilation, mister Meeuw).
[7" by Meeuw Muzak]
Frans de Waard / Vital Weekly
Photo: Meeuw Muzak
12.11.2007
De Fabriek goes the Hitmachine : “Het Terrein II”
12.08.2007
12.05.2007
Portefólio: Portraits of "A Longer Journey"
["A Longer Journey", Instalação de Pedro Cabrita Reis, Centro de Artes Visuais, Coimbra]
Fotografias: Nuno Loureiro (2003)
12.04.2007
Projecto: Camera 312 – Promemoria per Pierre
Durante 30 anos, viveu no Hotel Manzoni, em Milão, no histórico quarto 312. Foi precisamente a decoração deste quarto que foi recriado na exposição/instalação colectiva “Floating Yellow Post-It ®”, o elemento basilar do projecto “Camera 312 – Promemoria per Pierre”, promovido entre Junho e Novembro passados pelo Milan Art Center, com coordenação do artista plástico italiano Ruggero Maggi, no âmbito da 52ª Bienal de Veneza.
Inaugurada por uma performance assente na interacção performer/música/vídeo, “Floating Yellow Post-It ®” – que procurava captar a atmosfera intimista do quarto 312, em todos os seus elementos –, era totalmente preenchida pelo tom amarelo, presente nas paredes, na mobília, no espaço envolvente do público.
Fotografias: Cassaglia & Cerisola
Sobre a origem do projecto “Camera 312 – Promemoria per Pierre”, fica a explicação (pessoal e sentida) do seu mentor:
«The night I was told that Pierre Restany had passed away, I was suddenly and violently moved. I knew he was seriously ill, but his recent letters revealed confidence and hope. When I first met him, in the middle of the seventies, in
Since then we met many times and always our love for Nature came out. He was deeply fascinated by the eternal mystery of Nature, even if, in the years, he could perceive is most comprehensive essence only from the airplane, as he ironically used to point out in his letters.
12.02.2007
John Chirstopher Shillock: “Invisible Jazz”
11.14.2007
V2: O sucesso continua
É oficial. A campanha “Spread the Word”, dinamizada por V2, atingiu o número (entretanto já ultrapassado, por certo) de 2.500.000 dos emblemáticos autocolantes que vem distribuindo desde 1995.
Entretanto, e num registo diferente, V2 integrou recentemente a equipa dos De Fabriek de Richard van Dellen (ver entrevista aqui) para o álbum “Quatro-Erogenic-Occupy Theme's Part II", editado em Itália pela Afe Records. Um trabalho que, fortemente marcado pela influência da kosmische muzik (ou não tratasse de um ambiente alienígena), evidencia mais uma vez a qualidade e personalidade próprias deste projecto.
A V2, amigo de longa data que o GPInformation representa em Portugal numa exclusividade que desejavelmente não durará muito mais, endereçamos os nossos mais sinceros parabéns.
Nuno Loureiro
Fotografia + Imagem: D.R.
Projecto Jil: “Limited Edition”
À semelhança dos anteriores "Songbook" e "Back to Zero", o disco apresenta uma sonoridade suave e dançável, direccionada para o usufruto hedonista, embora distante da club culture, onde o minimalismo – como se sabe – se impôs. Com efeito, a este despojamento de elementos, o Projecto Jil contrapõe uma fusão que, não sendo propriamente original, combina de forma eficaz (e agradável) a base electrónica com referências marcadamente jazzísticas, lounge e, por vezes, mesmo ambient.
Talvez seja uma comparação por demais evidente (e também provavelmente redutora), mas ao falar de “Limited Edition” é difícil não evocar os exercícios estilísticos da Cinematic Orchestra ou dos Two Banks of Four.
Depois da vaga de som clínico que inaugurou o século XXI, muitos têm sido os que optaram por revestir os seus registos de um carácter mais orgânico, mais humano. A diferença do Projecto Jil é que nunca deixou de o ter.
[CDR – Edição de autor]
Nota: Disponível online está também a pequena pérola que é o vídeo "The Barefoot Runner", realizado por Filipe Y e musicado pelo Projecto Jil.
Nuno Loureiro
Imagem: D.R.
11.12.2007
10.25.2007
Paul Hegarty: “Noise Music: A History”
Paul Hegarty is a philosophy lecturer at University College Cork, with an interest in what he wouldn't call the genre of noise (“music”). A book either giving a history of noise's development, or an exegesis of its socio-philosophical implications would have been interesting. Unfortunately, this is neither.
The opening chapter sets off at a fine intellectual gallop "for Kant ... for Russolo. for Cage... Attali too. As... Ardono" – this is from a single page! Elsewhere, Nietzsche, Heidegger, Bataille, Hegel et al. All appear… a little too like the first attempt at a doctorial thesis, then in later chapters citation either runs out completely or revolves around another of Hegarty's interests – Adorno on Jazz, but not the Jazz here, (and why Jazz?). Bataille on Sade. There are inclusions – too many: Improv, Punk, The Grateful Dead, Prog Rock! and self confessed notable exclusions – and others not Reich's pendulum music Lou Reed's “Metal Machine”, The Gamelan, Harry Partch. The whole
How Hegarty gets away with this derives from two of his arguments, first that anything can potentially be called "noise", as in his long example of Yes's Tales of Topographic Oceans – well yes! –, but no mention then of Abba or Mantovarni. And secondly, that the avant-garde in music has often been described pejoratively in its beginnings as “noise”, or, as in the famous case of Sir Thomas Beecham, as shit – but this is beside the point. The point being "noise" applies to a particular phenomenon in music as an identifier and not a critique (Pop Art is not Pop Art because it is or was “popular”).
We know, and Hegarty certainly does, that such games can be played with definitions – this is Wittgenstein's famous “game”. To conflate the genre of noise, the “thing” with the same word applied as an attribute or subjective opinion of any music or sound is something of what I would call an ontological mistake of the first order. Or is it a strategy because it allows Hegarty to discuss any artist he wants to.
For instance, the space given to Cage and his silences – relevant by being irrelevant to the point of being a binary opposite – he might say? When after several chapters we get to actual Japnoise, and a further chapter on Merzbow, the irrelevance of much what went before becomes obvious. But here Hegarty fails to deliver what the patient reader might want – might expect, a detailed account – it’s all apologies.
He then goes on to a consideration of McLuchan on globalization, to raise the question: «what kind of world is in or behind world music». «World music»? I'm confused? This is a very confused history, and one which fails to pick up on the development of noise from Japan back to the USA and Europe, where it has been taken up as a definite genre, having its own festivals, labels, retail outlets both on and off-line, and even now its own proto-industry of designed and manufactured devices marketed by such as noisefx.com.
Widespread broadcasting on US University campus's and across Europe as radio and webcasts, of dedicated websites to the promotion of noise labels such as PacRec, artists like Wiesse and The Rita.
As a history the book this is chronology flawed, as a serious study the attempt to buttress certain artists (irrelevant to the genre in many cases) by relationships to certain philosophers seems strained. The book lacks structure and appears more like a set of articles, some written in an academic style, others not.
A detailed chronology, discology would have been useful. Works are referred to where perhaps a copy of the score might have been illuminating, even some pictures would help what is aesthetically a remarkably dull book. An accompanying CD or at least pointers to MP3s on an associated site would also have helped. I think that there is a sufficient body of material, artists, events, labels, online and actual retail outlets, manufacturers, chronologies and general dissemination of what can be called noise to warrant a study which does not piggy back on to it philosophical critiques of Cage, Jazz, Prog Rock, Punk and Rap, amongst others. Unfortunately, that's what Hegarty appears to do.
Maybe we can justify such irrelevance in this communication (of a history of noise music) as being itself yet another example of “noise”, but the genre of noise music is nothing to do with the unwarranted junk found in communication, or if it is, how is it, and why is it?
[Book by Continuum > hagshadow@hotmail.com]
jliat / Vital Weekly
10.21.2007
VIDEOLAB LAGOS 2007
A grande novidade da presente edição é a substituição de sessões de âmbito generalista por sessões dedicadas ao tema "Imagem-Corpo".
Neste sentido, o VIDEOLAB LAGOS 2007 é composto por três sessões com diferentes abordagens ao "Corpo", e por um conjunto de quatro instalações vídeo, a decorrer no Espaço Jovem e no Laboratório de Artes Criativas, respectivamente.
Shadow's veil
individuality
without face
but the spirit is containe
Maybe only stimulating to the maximum our sensibility we can try to break that detachment which makes us silent observers.
[Shadow's veil - art & social instalation]
A text by Ruggero Maggi
Photos + Image: R.R
10.17.2007
Interview: Beequeen
When talking of dutch alternative music, it is just impossible to detour from Beequeen, and, consequently, one of its creative halves, Frans de Waard. Which also means approaching other projects and subjects. GPInformation has the pleasure to present the direct speech of its favourite collaborator.
Frans de Waard (FdW): We met in 1988, when Freek [Kinkelaar] contacted me believing I was a hardcore Legendary Pink Dots fanatic. Little did he know. We did share a taste in adventurous music though and soon we found ourselves listening to cassettes filled with strange music for hours. Not long after that we met up. We decided it would be a good idea to see if we could produce music together. This became the “Mappa Mundi” cassette.
FdW: There isn't a concept as such. Beequeen is about two people making music together. As our lives, environments or musical tastes change, the music changes as well. This makes Beequeen a bit like a soundtrack to our lives.
FdW: Actually I work with more people, like Peter Duimelinks and Roel Meelkop, and also for quite some time, so it's not odd. I like to work with people who do something else than I do, or can play a real instrument. Freek can really play a tune or two. I can't.
FdW: We are indeed very different persons, but we also share quite a lot. We do have a long history together. There are times when we annoy each other profusely, but we also make up a lot and have a lot of fun together. We've known each other for 19 years, so we know a lot about each other. It is a bit like a marriage.
FdW: I do Goem solo these days, since we have a hard time finding time to work as a trio. I do Freiband and a bit of work under my own name. Not much.
FdW: Hardly, I think. I am not part of any scene. To some scenes remotely and do things, but more on a consulting level than on creative level, like some of the “work” I do for Extrapool, in Nijmegen. But I am not part of the noise scene or the official avant-garde posse. We (Beequeen, Kapotte Muziek and its varying members) are all outsiders, I guess.
On the other hand, how do you, as a citizen, see the present days in The Netherlands, both from the artistic and social points of view? Has the country changed?
FdW: The populist movement is quite strong, but people have very little understanding of the word “freedom”, whereas they call for new oppression. Not for themselves but for others. Sad, but the case. I am sure it will change in the future. No repression is ever lasting.
Focusing on sound production, what is Beequeen preparing for the near future?
FdW: We are currently working on the final mixes of the new Beequeen studio CD, entitled “Sanddancing”. This is an evolvement of our work with “Ownliness” and “The Body Shop”. We are both very excited about “Sanddancing”. It is probably the best of this trilogy.
Can you advance some more details on the "Sanddancing" production, as well as on its sound?
FdW: It's not a unified thing. It's a new album, the third more pop, like one. Like with “The Bodyshop”, we gave the rough recordings to Erik Drost, former guitarist of the Legendary Pink Dots to shape it, take out some unwanted hiss, put things in its place and mix it. “The Bodyshop” was already great, but this new one is more a unified whole thing.
What are you planning for your other projects?
FdW: I'd love to do a new Goem CD, when I have time to work on it. Roel and me completed a CD as Zebra which nobody wants to release. Roel, me, Guiseppe Ielasi and Howard Stelzer will have a CD on Port, in Japan. Beta-Lactam Ring is supposed to release five CDs from me (three as Freiband, one as Shifts and one as Frans de Waard), but it's unclear when that will happen. And I started to release CDRs again under My Own Little Label, which I think is great fun.
Are you releasing just your own work, or do you also publish other artists?
FdW: Well, if I wanted to release other people's work on My Own Little Label, I would have surely called it Our Own Little Label, which I didn't. My = me = me. And, oh, there are releases from very close friends who have as little faith in the music industry as me, such as Roel Meelkop. I even will release shortly a business card CDR from my eight year old daughter, who did some field recordings and composed a small piece of it. Korm Plastics and Plinkity Plonk will, of course, continue to release music from others.
Speaking of other persons, you once mentioned to have being involved in the return of Steven Stapleton/Nurse with Wound to live performances. What can you say on that?
FdW: I worked in 2004 and 2006 for the Earational festival, and it wasn't my action, but the festival director got Steve out of his place and present a surround sound mix of “Salt Marie Celeste”, by Colin Potter. Now they are everywhere, but nobody credits Earational. They also did the comeback of The Hafler Trio in 2003, but then also there others take the credit.
FdW: We play once a year, so what can I describe? Two guys on stage, one plays a laptop and one a guitar. We don't dance around.
Nuno Loureiro
Photos: R.R.
This interview is also available at Chain D.L.K.
10.15.2007
Artur Lasoñ
Compositor e executante de música electrónica computorizada, jornalista, docente, terapeuta, místico.
Todas estas actividades resumem (talvez de forma sumária) a carreira – já com cerca de 20 anos – de Artur Lasoñ, tão multifacetada como a personalidade artística de alguém que privilegia a descoberta interior em detrimento dos holofotes da notoriedade pública.
A discrição adoptada por Lasoñ não invalida, porém, que tenha vindo a participar em vários eventos, nomeadamente os mais importantes festivais de música electrónica realizados na Polónia [ZEF – Zlot Elektronicznych Fanatyków (Gathering of Electronic Fanatics) e Bliskie Spotkania z Muzyka Science Fiction (Close Encounters with SF Music)], assim como a Nocne Czekanie na UFO (The Night Awaiting for an UFO) e os Miedzynarodowe Spotkania Muzyczne – Ambient 2000 (Internacional Music Meetings). Aqui, teve lugar a apresentação ao vivo que se constituiria, porventura, como a mais marcante da sua carreira, quando interpretou uma peça improvisada em conjunto com Hans-Joaquim Roedelius, figura lendária da kosmische muzik, que integrou projectos como Kluster, Cluster ou Harmonia. «Foi um evento maravilhoso», recorda.
Numa vertente mais interdisciplinar, promoveu em
A docência é outra das vertentes onde Artur Lasoñ explora a relação entre mente e som. Desde 1996, ensina Ecologia da Mente e Técnicas de Meditação, cooperando ainda com a publicação “Cwzarty Wymiar” (“Fourth Dimension”), onde escreve sobre músicos que inspiram o seu trabalho em experiências meditativas e metafísicas.
A carreira jornalística começou, porém, três anos antes, quando passou a assinar a coluna “Moogazyn”, primeiro na revista “Enter”, e, posteriormente, na “Estrada & Studio” (“Stage & Studio”). O lado técnico desta análise materializar-se-ia num livro para principiantes no uso da tecnologia na música: “Introduction to a MIDI – Or let’s drift along the right channel”.
NEW RAGE VS NEW AGE
Misticismo e meditação não são materializados, necessariamente, em música new age. A esta, Artur Lasoñ contrapõe o conceito new rage, que explica no álbum “Hue Rage Music”, editado pela sua própria etiqueta, FEMME - For Electronic & Meditative Music Evolution. «Se a arte não estimula, causa indiferença – como uma parede nua para a qual não se olha, porque foi construída com um outro propósito», afirma, metaforizando: «Implica evitar o esforço, como uma cadeira onde se senta porque o chão está meio metro abaixo. Isso mata a imaginação».
A “raiva” proclamada por Lasoñ, contudo, não se reflecte directamente no produto sonoro final, que oscila entre o ambient, a electroacústica e a simples composição melódica. Em causa está um inconformismo imaginativo, fruto da miríade de universos percorridos. Na música e na mente.
Nuno Loureiro
Fotografias: D.R.
10.10.2007
RAMsilver: “Songs for Love & Destruction”
> english
10.09.2007
People Like Us: "Honeysuckle Boulevard" em MP3
10.06.2007
V/A: “Elffriede Soundrawing”
There is, I think, quite an uniform character among the drawings/text, which is important to keep in mind when we listen to the music. Elffriede asked 34 musicians to make a musical piece, inspired by her drawings.
These pieces are by a wide variety of musicians, operating in many styles. From Phill Niblock, Murmer, Jgrzinich to Incite, Jörg Piringer to Wohnzimmer, Zemmler which means from pure soundscape and serious composition to click/beat to naive lo-fi songs on cheap keyboards and acoustic instruments. It's a bit hard to like them all, I think, but I thought of it as a radio program: you switch it on and start listening to whatever comes, and things may not always have a relation.
Elffriede's book may serve as the program guide, which you can flip through when playing the CD, or simply put aside when you are done with it, and continue to enjoy the music, picking it up every now and then.
[CD/Book by Transacoustic Research]
Frans de Waard / Vital Weekly
Image:R.R.
9.23.2007
V/A – “Heizung Raum 318”
Room 318 is the name of a room in the building where Asmus Tietchens teaches sound at the University of Applied Science in Hamburg and “heizung” is the German word for “heating”. Except that it doesn't produce heat, but it makes a nice whistle. By turning the knobs of the radiator the whistle changes.
Since the three persons (or took) classes with Asmus Tietchens have paid close attention to the old master, it's a small step of recording the radiator – actually, all three of them – and turn them into music, along of course with an exercise by the master himself. The original source material is at the end of the CD, and the crude whistling makes it hard to believe that it leads to the preceding seven sound pieces.
It's easy too assume that all of these composers work with computers these days, and that one could also wrongly assume that their pieces would sound similar. This is not the case. Each of them approaches the source material in a different way, and this leads to quite interesting pieces of music. Asmus Tietchens delivers a piece of his trademark style processing: silent but loaded with small sounds and even a rhythm of some kind. Gregory Büttner applies the recent Tietchens methods (his “Menge” series) into a well-crafted piece of sizzling electronics. But there is also the more industrialized noise of Nicolai Stephan and Stefan Funk (especially in his last two versions; he has four in total), who take an entirely different route in their approach. Their music is closer to noise than to microsound, but they make a nice variation on the matter.
Quite a nice compilation altogether.
[CD by 1000 Füssler]
Frans de Waard / Vital Weekly
Photos: R.R.
Merzbow
No ínicio dos anos 80, o jovem Masami Akita, insatisfeito com a sua passagem pelo rock e pela pintura, decide exprimir-se de um modo novo. Brutal e inconformista, junta a agressividade do rock, a espontaneidade do freejazz, a radicalidade do dadaísmo e o extremismo do que se chamou "música industrial", para criar Merzbow.
O nome deste cadáver esquisito foi adaptado de uma colagem tridimensional do dadaísta alemão Kurt Schwitters, “Merzbau”, constituída por peças inutilizadas de velharias encontradas na rua. No conceito desta "Catedral da Miséria Erótica" – nome alternativo da obra – Masami Akita encontrou a ideia para as primeiras realizações do seu projecto musical.
Também elas eram colagens anárquicas de ruídos recolhidos de diversas fontes (televisão, rádio, discos, guitarras desafinadas, vozes) manipulados e amplificados de modo a produzir uma cacofonia densa e violenta, sem a mínima concessão às convenções sobre ritmo e melodia.
Estas peças haviam de se tornar cada vez mais extensas, superando os seus próprios limites em cada obra seguinte, originando aquilo que contraditoriamente se pode chamar música "noise".
A presença do ruído na música contemporânea não era, já então, inédita e pelo menos desde os futuristas italianos que encontramos o ruído, não só como fenómeno acidental, mas tomado mesmo por vezes como o objecto essencial da expressão musical moderna.
Em 1913, Luigi Russolo escrevia o seu manifesto "A Arte dos Ruídos" e proclamava o uso de todos os ruídos, desde os motores de explosão aos gritos humanos, como expressão material de uma música moderna e futurista, que se opunha aos entediantes concertos dos salões burgueses.
Na verdade, este compositor italiano não se limitou a usar os sons urbanos do quotidiano como os recriou, inventando os seus próprios intonarumori (máquinas de fazer ruído), para os quais escreveu composições numa nova forma de notação musical.
Não obstante, não podemos inscrever o "bruitismo" de Russolo na genealogia de Merzbow. Se Russolo reivindicava o uso dos ruídos, na sua música futurista, fazia-o em nome da renovação tímbrica da música moderna. De facto, podemos reconhecer herdeiros directos desse enriquecimento da música com sons concretos do quotidiano e da síntese electrónica de sons em Edgar Varèse ("Poéme Eléctronique"), Pierre Schaffer e Pierre Henry, ou mesmo em expressões populares, do rock ao tecno.
Já em Merzbow, e no noise japonês, em geral, o ruído não é apenas um novo instrumento; ele torna-se a forma e a matéria da obra musical, em tudo o que isso pode ter de contraditório.
O ruído é normalmente definido como o som desagradável e não desejado, opondo-se ao som musical. Esta é talvez a definição mais simples e mais aceite, mas assenta num critério subjectivo: o que é ruído para uns pode tratar-se de música para outros. Nesta mesma linha relativista e subjectivista, Masami Akita problematiza: «Não faço ideia do que chamam música ou ruído (...) se o ruído significa som desconfortável, então a música pop é ruído para mim».
Porém, e ao contrário do que mostra a boa fé destas palavras, a música noise joga precisamente com a oposição som musical/ruído, nomeadamente, com o facto de o ruído ser função do que não é ruído, que por sua vez é função de não ser ruído. Isto é, o ruído é ruído, na medida em que não é música, e a música só o é, porque não é ruído.
Mas isto não significa que o ruído seja uma forma mais primitiva e originária de som. O som bruto não é nem música, nem ruído. Essas são apenas categorias que são aplicadas aos resultados da percepção auditiva em função de critérios psicológicos e culturais. Escolher o ruído como categoria estética essencial de uma expressão musical é partir de uma contradição interna, pois: apresentar como música o que é suposto não ser música, é como matar-se no berço o próprio projecto de música noise, na medida em que, a partir do momento em que é apresentada a um público disponível ela parece perder instantaneamente a sua função de ruído, tornando-se apenas projecto artístico.
Manifestação da PETA (Japão)
Semelhante situação viveu o projecto de "anti-arte" Dada, onde os limites entre a expressão artística e a vida foram postos à prova, quando objectos do quotidiano (o famoso urinol de Duchamp) foram retirados do seu contexto e expostos como obras de arte. O projecto "anti" fracassara a partir do momento em que as peças passaram a integrar as colecções permanentes dos museus e o que era subversivo tornara-se num inofensivo momento da história da arte.
Porém o fracasso foi meramente aparente e só poderia assim ser interpretado à luz de considerações meramente formais. Com efeito, a subversão Dada foi bem real e concreta, servindo para requestionar os limites da linguagem artística e do papel da arte na sociedade.
Também o noise de Merzbow é concreto e a tensão dialéctica entre a música e o ruído não pode ser resolvida pela opção formal de o apresentar ou não como obra musical. Pelo contrário, a sedução do som de Merzbow, em toda a sua densidade, saturação, irrepetibilidade, irracionalidade, brutalidade, reside na iminente reversibilidade da sua tensão dialéctica: ruído insuportável/êxtase auditivo.
Por esta razão, a experiência de Merzbow aproxima-se do patético erótico: o desejo de fusão mística e a impossibilidade da união determinada pela descontinuidade trágica da diferença. É o próprio Masami Akita quem reivindica o pan-erotismo da sua expressão musical: «Tudo é erótico, todo o lugar é erótico», citando o aforismo surrealista que mais o influenciou; e continua: «o ruído é a mais erótica forma de som, por isso todos os meus trabalhos se referem ao erótico». E, de facto, o ouvinte de Merzbow é brutalmente violado e, simultaneamente, convocado à escuta activa e desejante: assaltado pela densa massa de frequências, a repulsão logo se transforma em atracção e sente-se emergir nessa densidade sonora, sem, porém, nunca encontrar o conforto de uma harmonia ou a regularidade de um ritmo, antes, mantendo-se numa frenética e inalcançável demanda.
A metáfora do masoquista não é aqui deslocada, podendo mesmo considerar-se o paradigma do ouvinte ocidental de noise japonês. Mas a perspectiva oriental de Merzbow não é a do controlo da audiência ou mesmo do material sonoro (essa seria porventura a intenção de alguns grupos ocidentais oriundos da música industrial, como Whitehouse, referida, porém, como influência de Merzbow); bem no oposto disso, desde os seus primeiros trabalhos, Masami Akita procurou minorar a sua intervenção, reinventando o processo de criação automática através da aleatoriedade da produção do som pelo equipamento que utilizava, nomeadamente, explorando as virtualidades do feedback, em vez da notação musical.
Os sons de feedback do equipamento são um conceito central para Merzbow. O feedback produz automaticamente uma tempestade de ruído e isso é bastante erótico, como se se tratasse de uma expiação magnética da electrónica.
A produção de Merzbow é ainda muito activa e tem vindo a ganhar um grande reconhecimento internacional. O número de peças eleva-se acima dos 500. Recomendam-se álbuns como "Noisembryo", "Music for Bondage Performance", "1930" ou "Material Aktion II", para a descoberta de uma das formas mais extremas e menos convencionais de expressão sonora.
Artigo também disponível no site clubOtaku.
Nuno da Fonseca
Fotografias: D.R.