11.15.2006

Entrevista: De Fabriek

A fábrica de sons


Iniciado no final da década de 1970, De Fabriek é um projecto que sempre apresentou uma personalidade única, apesar de todos os ventos de mudança conceptual que o atingiram durante três décadas. Balanço de uma longa carreira – em que colaborou com nomes como Conrad Schnitzler, The Klinik, Esplendor Geométrico ou P16.D4, entre muitos outros – nas palavras de Richard van Dellen, o seu principal operário.

Os De Fabriek nasceram no ano de 1977, em Zwolle (Holanda). Pode falar um pouco sobre o início do projecto e dos seus primeiros membros?
Eu tinha 25 anos de idade, na altura. O outro membro dos De Fabriek era Henry Mouwer, guitarrista de uma banda punk local, chamada The Vopos.
Antes de 1977 tínhamos o nome de Cyclon B Tapes. Éramos apenas duas pessoas!

Que bandas é que que vos influenciaram, na altura?
Kraftwerk, La Düsseldorf, Neu, Faust, Amon Düül, Cluster, Eno, Holger Zsukay, Harmonia, Popol Vüh, entre muitos outros.

Nos primeiros tempos dos De Fabriek, vocês utilizavam brinquedos para produzir sons, tendo chegado mesmo a fabricar os vossos próprios instrumentos. Como é que funcionavam as coisas, nessa altura?
Os nossos instrumentos de brincar vinham dos departamentos infantis dos grandes armazéns: eram pequenos e engraçados objectos, que emitiam sons do espaço e vozes no estilo Kraftwerk, e orgãos de plástico.
Quanto aos instrumentos feitos por nós próprios, estes eram, por exemplo, os crackle-synthesisers (kraakdozen, em holandês), que pareciam pequenas caixas de distorção com um só botão, ou outros instrumentos que soavam como um theremin estragado.

Ao longo de 30 anos de actividade musical, o som dos De Fabriek passou por várias e diferentes vertentes – do industrial ao funk ou mesmo acid-jazz, que se uniram num cocktail musical muito próprio. A intenção era essa, passar fronteiras?
Quanto a passar fronteiras, bem, se existem fronteiras, nós não as passámos porque não estávamos à procura delas. Na maior parte das vezes, nós tentamos fazer música espontaneamente e sem estar dentro de “compartimentos” musicais estanques.
Houve mesmo casos de editoras que nos pediram que fizéssemos temas dentro de determinados estilos. Nós rejeitámos muitas vezes esses pedidos, porque isso não nos diverte!

Os De Fabriek sempre foram um colectivo de vários músicos (“operários”), provenientes de backgrounds musicais diferentes. Gosta de trabalhar com todas essas pessoas?
Sim, acho que gosto de trabalhar com qualquer pessoa que também goste de trabalhar com os De Fabriek, sem excepções e sem modelos. Nós também não fazemos selecções. O som tem que vir dos dois lados, ou melhor, de três ou quatro lados diferentes. Nós odiamos modelos – se se quer fazer música experimental, tudo tem que ser livre.

Para além dos De Fabriek, tem algum projecto paralelo?
Eu nunca quis começar um novo projecto, com os mesmos objectivos mas com um nome diferente. Apesar disso, trabalhei num duo chamado Narwal, em conjunto com um amigo meu, que o começou há alguns anos. Este projecto já não existe.

Nuno Loureiro e Richard van Dellen
Fotografia: D.R.


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