11.15.2006

Alexander Kluge

Non agressive society




Realizador, argumentista, produtor e autor. Nasceu em 1932 em Halberstadt, Harz, na Alemanha.
Formado em Direito nas universidades de Freiburg, Frankfurt e Marburg. É tido como o “padrinho” do Cinema Novo alemão. Incentivou jovens realizadores a rebelarem-se contra o moribundo estado do cinema alemão, depauperado pela Segunda Guerra Mundial. Um dos mentores do manifesto “Oberhausen” de 1962. Escreveu muito sobre Economia e Cinema. No Institut für Filmgestaltung em Ulim, influenciou o talento e a consciência de Wim Wenders e Edgar Reitz, entre outros.

Falamos, é claro, de Alexander Kluge
, que – a par de nomes como Rainer Werner Fassbinder, Werner Herzog, Margerethe von Trotta e Volker Schlöndorff – renovou o cinema alemão nas décadas de 1960 e 70, e ainda hoje.
Os seus filmes caracterizam-se por uma forte sátira às incongruências políticas, através de montagens e narrativas com um cunho avant-garde. A sua primeira longa-metragem, “Abschies von Gestern” (1966) ganhou oito prémios no Festival de Cinema de Veneza, nesse mesmo ano. O filme traça as características que moldam Anita G., uma jovem com pouca sorte para o amor.

Muitas das personagens de A. Kluge são mulheres face a sociedade a uma repressiva sociedade sexista, como no filme “Gelenheitsarbeit einer Sklavin” (1974), no qual uma rapariga vende salsichas embrulhadas em manifestos políticos aos trabalhadores. Os filmes deste realizador geralmente evocam os contrastes entre o passado e o presente da Alemanha, à luz de duas obsessões permanentes: o materialismo e o militarismo.

As suas obras não são facilmente entendidas pelas audiências americanas, embora retratem muitas vezes a dependência da Alemanha em relação aos E.U.A., tal como “Willi Tobler and the Decline of the Sixth Fleet” (1970). A sua específica sátira política pode parodiar quer com o marxismo, quer com o capitalismo. Aliás, para Alexander Kluge, as instituições submetem-se à sua própria autoridade até deixarem de servir os propósitos para que foram criadas. Chega mais longe, quando em filmes como “The Patriot” (1979) ou “The Candidate” (1980) ridiculariza a mediocridade dos que a toleram e a sustentam do alto dos seus cargos institucionais.

«A sociedade não serve as necessidades dos seres humanos», disse Kluge, «mas é tão inofensiva que não estimula uma luta directa». Por isso mesmo, é que os seus vilões são tão ineficazes como os seus heróis: por exemplo, Ferdinand, o bobo fascista em “Strongman Ferdinand” (1979).

É que o cineasta acredita que, mostrando-se absurdo, a consciência humana cai em si e procure ultrapassá-lo. Nesse sentido, os seus filmes começaram a tornar-se cada vez mais um retrato do absurdo, sem se tornarem inverosímeis aos olhos da história alemã. Ele disse: «Eu crio personagens históricos numa sociedade não histórica».

Miguel dos Santos Soares
Fotografia: D.R.

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