10.15.2007

Artur Lasoñ


A mística do som

Artur Lasoñ

Compositor e executante de música electrónica computorizada, jornalista, docente, terapeuta, místico.

Todas estas actividades resumem (talvez de forma sumária) a carreira – já com cerca de 20 anos – de Artur Lasoñ, tão multifacetada como a personalidade artística de alguém que privilegia a descoberta interior em detrimento dos holofotes da notoriedade pública.

A discrição adoptada por Lasoñ não invalida, porém, que tenha vindo a participar em vários eventos, nomeadamente os mais importantes festivais de música electrónica realizados na Polónia [ZEF – Zlot Elektronicznych Fanatyków (Gathering of Electronic Fanatics) e Bliskie Spotkania z Muzyka Science Fiction (Close Encounters with SF Music)], assim como a Nocne Czekanie na UFO (The Night Awaiting for an UFO) e os Miedzynarodowe Spotkania Muzyczne – Ambient 2000 (Internacional Music Meetings). Aqui, teve lugar a apresentação ao vivo que se constituiria, porventura, como a mais marcante da sua carreira, quando interpretou uma peça improvisada em conjunto com Hans-Joaquim Roedelius, figura lendária da kosmische muzik, que integrou projectos como Kluster, Cluster ou Harmonia. «Foi um evento maravilhoso», recorda.


Roedelius e Lasoñ


Numa vertente mais interdisciplinar, promoveu em 1999 a série de espectáculos “MMM – Music, Multimedia, Mysticism”, acolhida pelo Museu da Ásia e Pacífico, em Varsóvia.

A docência é outra das vertentes onde Artur Lasoñ explora a relação entre mente e som. Desde 1996, ensina Ecologia da Mente e Técnicas de Meditação, cooperando ainda com a publicação “Cwzarty Wymiar” (“Fourth Dimension”), onde escreve sobre músicos que inspiram o seu trabalho em experiências meditativas e metafísicas.

A carreira jornalística começou, porém, três anos antes, quando passou a assinar a coluna “Moogazyn”, primeiro na revista “Enter”, e, posteriormente, na “Estrada & Studio” (“Stage & Studio”). O lado técnico desta análise materializar-se-ia num livro para principiantes no uso da tecnologia na música: “Introduction to a MIDI – Or let’s drift along the right channel”.

NEW RAGE VS NEW AGE



Misticismo e meditação não são materializados, necessariamente, em música new age. A esta, Artur Lasoñ contrapõe o conceito new rage, que explica no álbum “Hue Rage Music”, editado pela sua própria etiqueta, FEMME - For Electronic & Meditative Music Evolution. «Se a arte não estimula, causa indiferença – como uma parede nua para a qual não se olha, porque foi construída com um outro propósito», afirma, metaforizando: «Implica evitar o esforço, como uma cadeira onde se senta porque o chão está meio metro abaixo. Isso mata a imaginação».

A “raiva” proclamada por Lasoñ, contudo, não se reflecte directamente no produto sonoro final, que oscila entre o ambient, a electroacústica e a simples composição melódica. Em causa está um inconformismo imaginativo, fruto da miríade de universos percorridos. Na música e na mente.

Nuno Loureiro
Fotografias: D.R.








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